Escola pública de Japeri pinta nova realidade com oficina de arte
Peter Cohen criou a oficina Multiarte em 2003 Foto: Nina Lima
Diego Barreto
Diego Barreto
Por aquelas bandas não existem museus e nem galerias de arte. Em Japeri, município da Baixada Fluminense com menor índice de desenvolvimento do estado, o acesso à cultura é artigo de luxo, quase inacessível. Mas, de uma pequena sala do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, já saíram obras de arte hoje expostas na Europa e na Ásia. As telas pintadas à óleo são frutos de um projeto que está transformando a realidade de estudantes e ajudou a reduzir a evasão escolar.
O esboço do projeto, batizado de Multiarte, começou a ser desenhado há uma década: quando a professora Peter Cohen escolheu lecionar em Japeri, depois de anos trabalhando em escolas do Rio de Janeiro.
— Foi escolha minha vir para Japeri. Pesou o fato de poder fazer a diferença numa área carente, principalmente de cultura. Queria diminuir a exclusão social e cultural desses meninos. Pedi um espaço à direção da escola e apresentei o projeto para além das aulas de artes, trabalhar voluntariamente numa oficina no contra turno.
Projeto já tem dez anos Foto: Nina Lima
Não demorou para telas com inspiração em obras de mestres como Kandinsky, Dali, Monet e outros começarem a colorir as paredes do colégio. O número de alunos na oficina cresceu e muita gente começou a querer estudar no Almirante Tamandaré só para participar da oficina.
— No início os meninos pintavam com tinta guache. Mas logo surgiram alunos de muito talento. A direção da escola nos deu apoio e passamos a trabalhar com tinta a óleo e material profissional.
Rendimento da escola melhorou com o projeto Foto: Nina Lima
Entusiasmada Peter levou para fora dos muros da escola a produção de ‘seus meninos’.
— Inscrevi eles em concursos de artes destinados a profissionais. E eles começaram a ganhar. Através desses concursos, duas obras feitas aqui estão expostas na China e na República Tcheca. Eles chegaram na frente de artistas que já trabalham com pintura — conta orgulhosa.
Além do gosto pela pintura, para estar no projeto existe um pré-requisito: o bom rendimento em sala de aula. A exigência ajudou a escola a melhorar seus resultados no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) que foi de 3.1 em 2007, para 4.3 em 2011. A evasão escolar também muito baixa, 2%, enquanto a média da rede estadual é de 9,6%.
— Quando vejo tudo que conquistamos tenho sensação de dever cumprido. Num dos concursos recentes, ao anunciarem os vencedores disseram: “o segundo colocado vem lá do fim da linha, de Japeri...” Me emocionei e tive certeza que vale muito a pena trabalhar com esses meninos.
Obras chegam a R$ 350 Foto: Nina Lima
Estudantes que participam do projeto já assinam telas e geram renda com seus trabalhos. Dependendo do tamanho da tela, as obras chegam a ser vendidas por R$ 350.
— Uma mãe me ligou porque ficou assutada quando a filha chegou em casa com o dinheiro de um quadro que tinha vendido — conta Peter.
Talentos reconhecidos
Monique Guimarães, de 17 anos, aluna do 1º ano do ensino médio, já vendeu algumas obras. Mas nenhuma lhe trouxe tanto reconhecimento como a que pintou para um concurso promovido pelo governo da República Tcheca.
— Fiquei entre as 50 melhores do mundo, entre 27 mil inscritos. Pintei a paisagem da minha cidade. Ganhei uma joia das mãos do cônsul — lembra a menina, que sonha com a carreira de pintora.
— Eu já estou estagiando num ateliê. Sonho em seguir trabalhando com artes.
FONTE: JORNAL EXTRA - RJ
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